Depois de milhares de reprises nas sessões da tarde da vida, não há quem não lembre da Julie Andrews correndo, cantando e dançando pelos Alpes austríacos no clássico "A Noviça Rebelde" de 1965.
O cenário é de matar. Amplas pastagens emolduradas por montanhas de neves eternas. Pra quem é chegado num turismo natureba, um verdadeiro chamado bucólico e selvagem; citando meu amigo Jack London, cujo "Chamado Selvagem" foi um dos livros de cabeceira dos meus tempos de aventureiro pré-adolescente.
Mas o assunto aqui são os Alpes suiços. Afinal, tem que ser insensível pra preferir se acotovelar nas ruas de comércio de Zurich ou Geneve, podendo caminhar pelos montes com os maçicos nevados se erguendo a sua volta. Além da aproveitar da paisagem de tirar o fôlego, se você for mulher ou meio boiola, pode até imitar os passinhos da noviça rebelde entoando a famosa musiquinha do filme, saltitando pelos campos.
Gracinhas a parte, tem várias maneiras de se aproveitar um dias nas montanhas, mas só conheço uma, e é a que vou narrar aqui.
Quem subiu as neves eternas do Jungfrau pela cremalheira (que dá pra definir como uma espécie de trem alpinista que corre sobre trilhos especiais), passou por Kleine Scheidegg, um pequeno vilarejo composto não mais que por uma meia dúzia construções circundando um grande hotel-chalé. Fica a mais de dois mil metros de altitude e oferece um panorama fantástico dos Alpes. O que pouca gente sabe, ja que a maioria dos turistas sequer desce da cremalheira na ida e na volta, é que a pequena vila por si só já é uma atração a se curtir.
Sem desmerecer o passeio as geleiras, pois pra quem não é familiarizado com neve, deve ser fantastico caminhar no gelo desértico, Kleine Scheidegg oferece mais. Principalmente se estivermos perto do verão, ha belas caminhadas a se fazer, por paisagens cinematográficas. A cidade é ponto de partida pra os adeptos do trekking. A poucos minutos de caminhada você já se sente o rei do mundo, mais ainda que o Leonardo de Caprio na proa do Titanic. A monumental cordilheira imponente ante seus olhos, sob um clima agradavel, ainda que você encontre acumulos de neve aqui e ali. Resquicios de eventuais nevascas noturnas.
Fui acompanhado de uma amiga, Claudine, suiça de Bern, que eu havia conhecido dois anos antes na subida a Machu Pichu no Peru, e que gentilmente me hospedou na capital. A idéia do piquenique foi dela, e o ciumento maridão italiano, é óbvio que não nos permitiria uma dia a sós nas montanhas, um cenário tão romântico. Maior comédia. Ele foi junto. É um sujeito muito falante e simpático, de firmes convicções políticas, apsar de viver, e gostar de viver, num país alegadamente neutro. O casal me proporcionou um dos mais belos passeios da minha vida, que foi este piquenique nas montanhas. As fotos falam por si.Apaixonado por arquitetura, perdi algum tempo observando o cuidadoso trabalho artesanal das telhas de madeira, dispostas em escamas, umas sobre as outras, compondo o telhado dos chalés. E após percorrer algumas trilhas e experimentar alguns bons tombos na neve, encerramos o passeio esperando a cremalheira de volta saboreando um chocolate quente na varanda de um pequeno bar com uma vista espetacular.
E antes que algum engraçadinho pergunte. Não, não cantamos nem dançamos "The sound of music".
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Como chegar:
A cremalheira para o Jungfrau parte de Grundewald Grund nas cercanias de Interlaken, e é uma ferrovia particular. Pode-se atingir Interlaken a partir das principais cidades suiças, porém a mais próxima é Berna.
Fotos: São minhas as do panorama da vila de Kleine Scheidegg e do telhado em madeira. A que apareço ao longe contemplando as montanhas é cortesia de minha amiga Claudine.
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